SUMMARY
Drawing has been part of my life for as long as I can remember—from teaching my grandmother to draw as a child to being supported by my family in ways that allowed me to keep going. For me, drawing isn’t just a practice; it’s a way of connecting with memory, emotion, ancestry, and imagination. I also wonder whether people ever truly stop drawing—or if, perhaps, they simply begin drawing differently. When we walk, sketch, write, move, or even leave a footprint in a puddle, we’re still drawing. In this piece, I share personal stories and offer a broader way of thinking about drawing—not only as an artistic skill, but as a way of leaving traces in the world.
Por que as pessoas param de desenhar?
A primeira experiência que tenho como lembrança com o desenho vem entre os meus três e quatro anos de idade, quando ensinava minha avó Hortência a desenhar. Certamente, antes disso eu já rabiscava algumas coisas, mas não tenho memória visual sobre isso. Na época, passava horas mostrando à minha avó como desenhar alguns personagens de desenho animado; porém, o único desenho que ela arriscava fazer era uma maçã. Ainda é necessário dizer que, para fazer os desenhos, eu contava com a imensa ajuda da minha tia Delvira, que sempre tinha em mãos pilhas e pilhas de papéis e canetas, as quais eu podia usar à vontade.
Desenhar, para mim, é estabelecer uma relação com a memória — por vezes afetiva, étnica, folclórica ou sacra. Assim, eu nunca parei de desenhar. E talvez, nesse sentido, meu pai tenha uma participação muito importante na minha continuidade com essa linguagem. Desde o início da década de 1990, ele colecionava meus desenhos de criança no escritório, sobre a sua mesa de trabalho. Ali, foi sem dúvida a primeira vez que os meus desenhos vieram a público. Até fiquei conhecido como “o Sabarazinho”, referência ao sobrenome do meu pai, João Sabará.
Como a minha relação com o desenho vem de muito cedo e a mim não foi dada nenhuma motivação para parar, quando levanto a questão “por que as pessoas param de desenhar?”, não me sinto suficientemente capaz de respondê-la. No entanto, diria que todo adulto é capaz de afirmar que, quando era criança, desenhava.
Na tentativa de responder ao questionamento, acrescento que compreendo o desenho como uma forma de linguagem/expressão. E talvez algumas pessoas, com o passar dos anos, deixem de desenhar porque encontram outras formas melhores de se comunicarem — seja pela dança, música, escrita, estando presentes no dia a dia com um sorriso, um “bom dia”, uma prece ou, quem sabe, mesmo em silêncio. Afinal, quem nunca ficou sem palavras e, ainda assim, se convenceu de que aquele silêncio era o melhor para o momento? Cães são mestres em fazer isso...
Antes que eu me desperte do assunto, confesso que não me dou por satisfeito com essa primeira possibilidade que levanto. Desse modo, proponho outra pergunta: e se as pessoas nunca deixaram de desenhar e, talvez, estejam desenhando mais do que nunca?
Para isso, é preciso compreender o desenho em sentido amplo. Imagine que me desloco de um local a outro — a pé, de carro, de moto ou por outro meio. Com a ajuda de um aplicativo, posso visualizar o resultado desse deslocamento, que em si é um desenho no espaço/tempo. Ou, se observo um avião passando no céu, o rastro de fumaça deixado é também um desenho. Ou ainda, quando escrevo algo em um papel de rascunho e rabisco algumas sentenças, essas rasuras são linhas que também configuram um desenho. O desenho pode ainda se relacionar com impressões — ou com o simples ato de deixar marcas. Nesse sentido, lembro de uma sequência de pegadas quando se caminha por uma poça d’água.
Enfim, essas seriam formas de pensar o desenho no campo expandido. Depois, há o trivial — e recorro à famosa (e pejorativa) frase que ouvimos no Brasil: “Entendeu ou quer que eu desenhe?!” A frase, muitas vezes usada de forma rude, na verdade ajuda a compreender que, muitas vezes, um desenho explica melhor do que palavras. E quantas não são as salas de reunião em que desenhar para explicar se faz necessário?
Por fim, uma das coisas mais belas é ver um adulto junto de seu filho, sobrinho ou neto, no sofá, à mesa da sala ou mesmo em um restaurante, incentivando-o a dar os primeiros rabiscos com lápis ou canetinha. Aquele mesmo adulto que muitas vezes se pergunta “por que parei de desenhar?”, quando diante de uma criança que se expressa por meio do desenho, em nenhum momento questiona se aquela linguagem deve ou não ser desenvolvida. Ele apenas incentiva — como se soubesse, intuitivamente, que ela é essencial.
Obrigado à minha avó pelas horas de paciência, à minha tia pelos recursos sempre disponíveis para desenhar, e ao meu pai por trazer a público as minhas primeiras formas de expressão.
Lindo texto! Por minha experiência como professora da educação infantil, a criança deixa de desenhar quando alguém faz a pergunta: "o que é isso?". Como você sabe, não sou da linha de arte como linguagem, mas sim como afecção, ou seja um desenho detona afetos sensíveis. É isso que as pessoas nem sempre são capazes de perceber, não se deixam serem afectadas e sentir emoções a partir dos desenhos das crianças.
A pergunta "o que é isso?" dá a entender à criança que ela não sabe desenhar e que ela tem que desenhar algo que as outras pessoas entendam ou decifrem. Como ela considera que falhou, deixa de desenhar. Bjim
Lindas lembranças e homenagens aos seus familiares. Com certeza todos eles formaram um tripé para sua realização com tantos desenhos incríveis.
Também não me lembro porque parei de desenhar.
Como a sua avó, eu também me arrisco a desenhar um simples patinho, solzinho e não mais…😂😂
Prometo continuar tentando. Quem sabe?